23 de janeiro de 2008

o que vem à mente, num instante


primeiro instante
já ouviste falar?
eu já,
momento único, momento sombrio e escuro...
(ou não)
naquele instante querer-te
naquele instante guardar-te ou até esconder-te
como um arrepio, um instante
esperar um instante?
para quê se um instante é tão pouco, sim, porque é um instante...
instante sombrio e escuro, pois todos os defeitos, ciumes e invejas, se levantam e renascem...
momentos apenas, pois não passam disso
nuns instantes tocar, noutros falar, ou até matar
mas na verdade, o instante é um instante
isto é, um segundo.
pois quem pergunta nasce de novo, e quem se cala morre para todo o sempre.
anexo?
não, mas sonhar e imaginar sim, pois é esta a liberdade que temos
liberdade psíquica, não física...
instante solene, único, passageiro e mortal.

Diário de soldado Esteves

Querido Diário,
escrevo-te nestas velhas folhas salgadas pois não tenho nada mais para fazer e estou um pouco aborrecido.
Me encontro em Goa, onde há nativos por todo o lado, deveramente estranhos.
Nem percebo bem porque estou aqui. Ah sim, o meu pai disse que para eu ser um homem de verdade tinha de que vir para aqui, e obrigou-me a vir.
Enfim, aqui estou eu, comendo especiarias, cansado e farto de estar aqui. Os outros soldados, meus amigos, até são divertidos e porreiros, mas às vezes sinto falta do que tinha em Portugal, podia ser pouco, mas já me contentava. Já tenho saudades da minha mãe e daqueles maravilhosos cozinhados, dos chatos dos meus irmãos e do rígido e severo do meu pai.

Estão todos a dormir, mas eu não tenho sono, apesar de estar cansado.
Encontrei esta pena e estas folhas numa mala-saco do Fernandes, um soldado meu amigo.
Sendo sincero contigo meu pequeno diário, digo-te que nem acreditava que chegaria-mos mesmo à índia, mas se lhes disse-se isto, iam-me deixar à beira de uma praia qualquer na África e nunca mais conseguiria chegar a casa.
Por outro lado até foi bom ter vindo, sinto-me livre aqui e conheci muita boa gente.
O Fernandes não queria ficar aqui como eu, mas agora acho que apaixonou-se pela enfermeira, e penso que eles têm planos de ir viver para Diu e casarem-se lá. Enfim, ele era o meu melhor amigo e não queria nada que ele se fosse embora, mas se ele está feliz, eu vou ficar também.
Está um pouco frio, vou lá pra dentro a ver se descanso.
Gostei de falar contigo, até mais.


(passado 5 semanas...)

Diário, estou de volta.
Não pelos mesmos motivos da ultima vez, mas porque queria contar-te algumas coisas.
O Fernandes apresentou-me a Luís de Camões.
Não deves saber que é. Está sempre a escrever, cá para mim, tem um diário como eu. hahaha
Mas ele é muito esquisito e diferente de todos os homens que cá estão, pois quando todos querem jogar uma partidinha de cartas, ele vai para a janela ver o céu e o horizonte e fica sozinho. Penso que seja pouco sociável. Ah! Mas quando falei com ele, ate me pareceu simpático...


(passado 2 semanas)

Meu amigo e requisitado diário,
estou triste, pois o Fernandes viajou com a menina Laurinda, a enfermeira.
A despedida foi muito desgostosa. Houve lágrimas salgadas escorrendo nos rostos dos fortes homens. Nem me quero lembrar.
Dei-lhe uma medalhinha da amizade para ele nunca se esquecer de mim. Vou sentir muito a sua falta. Mas ele me vez prometer que lhe envia-se cartas sempre que eu pudesse.
Agora uma óptima noticia, descobri quem é o verdadeiro Luís de Camões.
É um pouco estranho dizer isto assim, mas é verdade. Este homem é inexplicável, ele é um sonhador, e aquilo que estava sempre a escrever era um livro, disse-me ele. Ele conto-me coisas que só ouvindo.
Um dia estava eu sentado no chão a pensar a vida e a recordar dos velhos tempos, e ele foi ter comigo e falou-me de acontecimentos encantadores que eu nunca as iria ver se ele não me disse-se, ele mostrou-me um outro mundo. Foi mesmo muito reconfortante para mim. A meu ver ele é um senhor muito culto e sábio. Com experiência, nem existem palavras para o descrever.
Enfim, como ele me impressionou...